quarta-feira, setembro 02, 2009

Para que serve a escola?

Secretaria Municipal de Educação
2a. Jornada Pedagógica 2006
Coordenação – Mariene de Oliveira Macedo
Bárbara Marques dos Santos Reis

Para que serve a escola?


Mais do que nunca, precisamos considerar a educação como um meio capaz de preparar os indivíduos para entender dados, informações e inovações dentro de seus respectivos contextos, mas sem perder de vista suas ligações com um todo maior que se apresenta como um sistema de vasos comunicantes.
É quase um consenso que as escolas têm a missão de “educar para o futuro”. Essa preocupação com o porvir origina-se, mais do que nunca, nas rápidas mudanças sociais, nos avanços científicos e na atual efervescência tecnológica que está, irremediavelmente, alterando os cenários do trabalho e do lazer.
É quase um consenso, também, que a escola atual precisa mudar, pois os avanços científicos e tecnológicos geram novas exigências, demandam competências e habilidades originais, bem como novos meios para entender a complexidade crescente da realidade. Nesse sentido, a escola não soube e ainda não sabe como proceder para desenvolver o aluno, que viverá no futuro.
Muitas vezes, na história da humanidade, os ventos da mudança social foram tão fortes que pressionaram os governos, as instituições, os homens e a própria ciência a transformar suas maneiras de pensar e agir. Foi assim, por exemplo, quando a descoberta da agricultura transformou os grupos humanos nômades - habitantes de qualquer lugar onde houvesse alimento - em grupos gregários, em habitantes de vilarejos e depois em moradores das cidades; quando a sociedade francesa organizou-se e mudou o seu regime de governo, tornando cada homem um cidadão e sua educação, responsabilidade do estado; quando, no Brasil, a família que não manda suas crianças para a escola torna-se um caso para a justiça.
Além disso, as descobertas científicas e tecnológicas e os diferentes sentidos das relações homens/ciência/natureza propiciaram, em momentos marcantes, elementos para tomadas de decisão que, ao longo do tempo, mostraram ser fortemente equivocadas e prejudiciais, gerando problemas globais que, por sua vez, também desencadearam pressões sobre os governos e as instituições. Descobrir, por exemplo, que o gás fréon podia ser utilizado como gás refrigerante em sistemas de climatização (ar condicionado domiciliar e de veículos) e como agente pulverizante (em aerossóis), em princípio, pareceu facilitar a vida do homem, mas ao longo do tempo mostrou ser um erro de conseqüências graves. Tal composto contribuiu para a destruição de partes da camada de ozônio, originando os “buracos” que deixam passar livremente raios solares nocivos à saúde dos seres vivos, aumentando a incidência de certos tipos de câncer e diminuindo a capacidade imunológica.
Exemplos de erros como esses foram constantes e gravíssimos, principalmente durante o século passado; em contrapartida, forçaram-nos a tomar consciência dos para efeitos de nossas decisões, forçaram-nos a compreender que a visão fragmentada e a leitura parcial da realidade podem gerar o surgimento de catástrofes climáticas, agrícolas e sociais irreversíveis a longo prazo.
Por isso, Morin (2002, p. 33) afirma que a educação precisa oferecer elementos para “armar cada um para o combate vital para a lucidez”, o que só será alcançado quando olharmos para além do nosso horizonte, compreendermos a repercussão das nossas ações no nosso habitat mais próximo e mudarmos nosso entendimento do que é contexto nas suas formas local e global.
Mais do que nunca, fica evidente que a educação para o futuro é fundamental para a sobrevivência do nosso planeta e, por extensão, dos seres vivos que nele habitam. Mais do que nunca, precisamos considerar a educação como um meio capaz de preparar os indivíduos para entender dados, informações e inovações dentro de seus respectivos contextos, mas sem perder de vista suas ligações com um todo maior que se apresenta como um sistema de vasos comunicantes. Mais do que nunca, estamos cientes de que o futuro está no presente porque o que fazemos aqui e agora repercutirá inevitavelmente em outros lugares e tempos.
A criança caminha na direção do pensamento sociocêntrico, ancorado na objetividade, na reciprocidade e na relatividade, à medida que interage com seus pares. Nesse processo, fica exposta a diferentes pontos de vista, perspectivas, interesses, ritmos e contextos. Este é o meio que a obriga a descentrar, a tomar o(s) outro(s) em consideração, a compreender que seu ponto de vista e suas vontades não são unanimidade e que, com freqüência, para atingir determinados fins, a via da negociação vale a pena por ser a mais segura.
Não muito diferente disso, adultos, instituições, governos ou nações muitas vezes só se dispõem a descentrar e encarar as diferentes facetas da realidade quando interagem com outras pessoas, instituições ou nações capazes de estabelecer relações em pé de igualdade, e nelas encontram pontos de resistência. Também nesse nível, é a simetria que os(as) força a reconhecer que a qualidade de vida, a sobrevivência ou o desenvolvimento dependem do reconhecimento de que é preciso respeitar a identidade cultural; o pluralismo político; os direitos humanos nas suas vertentes civis, políticas, religiosas, econômicas, sociais e culturais; a integridade e soberania física ou territorial; a não-intervenção ou o não- uso/ameaça de uso da força nas relações, buscando uma solução pacífica para as controvérsias.
Ter clareza da função social da escola e do homem que se quer formar é fundamental para realizar uma pratica pedagógica competente e socialmente comprometida, particularmente num pais de contrastes como o nosso, onde convivem grandes desigualdades econômicas, sociais e culturais.
Preparar o aluno para o futuro, transpondo esse ideário para o cotidiano da sala de aula, implica romper com a estrutura e organização da escola atual, marcadamente alicerçada em relações hierárquicas. Significa, além disso, reconhecer que a escola é um contexto que reflete e está mergulhado em outros contextos mais amplos, com os quais precisa interagir e intercambiar. Significa entender o quanto ações relativas ao bem-estar individual e da coletividade mais próxima são influenciadas e influenciam outras realidades próximas, distantes ou consideradas marginais. Abrir a sala de aula e propiciar a interação dos alunos com diferentes contextos pode prepará-los para compreender a relativização das realidades ambientais, a diversidade de povos, países e culturas, facilitar o entendimento da interdependência e a necessidade da negação ativa dos processos de dependência de uns aos outros. Aprender a submeter idéias, ações, valores à apreciação de outros, realizar trabalhos colaborativos e cooperativos em contextos mais amplos, pode facilitar a geração de senso de responsabilidade e solidariedade entre os homens e entre eles e os outros seres que compõem o nosso mundo.
Para isso, é fundamental um entendimento mais claro do que seja contexto e suas variantes local, nacional e global, bem como transitar e interagir em diferentes realidades. Hoje, na escola, percebe-se um descompasso entre as concepções de alunos e professores sobre o que é contexto local e contexto global. Esse descompasso aprofunda-se ainda mais quando se introduzem elementos relacionados ao tempo e espaço - vistos e entendidos hoje de modo diferenciado, graças às tecnologias da informação e comunicação.
É preciso acreditar que todos os homens defrontam-se com problemas semelhantes, transfigurados e disfarçados pelas diferenças que existem nos diversos espaços e tempos em que vivem. São os mesmos problemas, e a compreensão a respeito deles depende não só de uma visão individual ou grupal mais localizada, como também de uma visão mais coletiva, globalizada.
E preciso criar asas para que ele possa voar e. assim, ver e pensar a realidade como um todo, com um certo distanciamento, de forma autônoma, única possibilidade de transforma-la.
A escola não pode tudo sozinha. Tem limites claros. Ela não existe isoladamente, mas faz parte de um sistema publico que tem a responsabilidade de lhe dar sustentação para que possa cumprir sua função.
Se considerarmos que um dos objetivos mais importantes da escola é a transmissão do conhecimento científico e se considerarmos que a ciência sempre se ocupou dos princípios universais, ou seja, relativos ao real, não importa o espaço e o tempo de suas expressões, então poderemos concluir sobe o valor inestimável dessa instituição nos dias de hoje. Além disso, é na escola que aprendemos a ler e a escrever, dois objetos socioculturais muito importantes em tempos de globalização.”
Assim, é responsabilidade de todos os segmentos sociais, adeptos de uma sociedade democrática, exigir o cumprimento dos dispositivos legais referentes à educação.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MORIN, E. Os sete saberes necessários à Educação do Futuro. São Paulo/ Brasília, DF: Cortez/UNESCO, 2002.

Revista Pedagógica Pátio, anoX, agosto/outubro 2006

Beatriz Corso Magdalena é bióloga, mestre em Educação e pesquisadora do Laboratório de Estudos Cognitivos (LEC) do Instituto de Psicologia da UFRGS.


Iris Elisabeth Tempel Costa é psicóloga, mestre em Psicologia do Desenvolvimento, doutoranda em Informática na Educação e pesquisadora do LEC/UFRGS.

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