IDÉIAS CENTRAIS DO LIVRO A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER- PAULO FREIRE
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A leitura do mundo precede a leitura da palavra,
daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da
leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão
do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das
relações entre o texto e o contexto.
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Para o autor, a leitura da palavra, da frase, da
sentença, jamais significou uma ruptura com a "leitura" do mundo e como
professor também de português, nos seus vinte anos, viveu intensamente a
importância do ato de ler e de escreve.
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A leitura de um texto, tomado como pura descrição
de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela
portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala.
· Um dos documentos filosóficos mais importantes de
que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas
e meia...
· O processo da alfabetização tem, no
alfabetizando, o seu sujeito. O analfabeto é capaz de sentir a caneta, de
perceber a caneta e de dizer caneta.
· A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão
escrita da expressão oral.
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De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e
dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas
por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo
através de nossa prática consciente.
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Falar de alfabetização de adultos e de
bibliotecas populares é falar, entre muitos outros, do problema da leitura e da
escrita. Não da leitura de palavras e de sua escrita em si próprias, como se
lê-las e escrevê-las não implicasse uma outra leitura, prévia e concomitante
àquela, a leitura da realidade mesma.
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Do ponto de vista critico, é tão impossível negar
a natureza política do processo educativo quanto negar o caráter educativo do
ato político.
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A educação reproduz a ideologia dominante, é
certo, mas não faz apenas isto. Nem mesmo em sociedades altamente modernizadas,
com classes dominantes realmente competentes e conscientes do papel da
educação, ela é apenas reprodutora da ideologia daquelas classes.
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Nem sempre, infelizmente, muitos de nós,
educadoras e educadores que proclamamos uma opção democrática, temos uma
prática em coerência com o nosso discurso avançado.
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Cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e
com os outros. Viver ou encarnar esta constatação evidente, enquanto educador
ou educadora, significa reconhecer nos outros - não importa se alfabetizandos
ou participantes de cursos universitários; se alunos de escolas do primeiro
grau ou se membros de uma assembléia popular - o direito de dizer a sua
palavra.
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Só educadoras e educadores autoritários negam a
solidariedade entre o ato de educar e o ato de serem educados pelos educandos;
só eles separam o ato de ensinar do de aprender, de tal modo que ensina quem se
supõe sabendo e aprende quem é tido como quem nada sabe.
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Para que a afirmação “quem sabe, ensina a quem
não sabe” se recupere de seu caráter autoritário, é preciso que quem sabe saiba
sobretudo que ninguém ache tudo e que ninguém tudo ignora. O educador, como
quem sabe, precisa reconhecer, primeiro, nos educandos em processo de saber
mais, os sujeitos, com ele, deste processo e não pacientes acomodados; segundo,
reconhecer que o conhecimento não é um dado aí, algo imobilizado, concluído,
terminado, a ser transferido por quem o adquiriu a quem ainda não o possui.
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Fazer a História é estar presente nela e não
simplesmente nela estar representado9. Pobre do povo que aceita, passivamente,
sem o mais mínimo sinal de inquietação.
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Na medida em que a reconstrução nacional é a
continuidade da luta anterior, do esforço anterior em busca da independência, é
absolutamente indispensável que o povo todo assuma, em níveis diferentes, mas
todos importantes, a tarefa de refazer a sua sociedade, refazendo-se a si mesmo
também.
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A alfabetização de adultos enquanto ato político
e ato de conhecimento, comprometida com o processo de aprendizagem da escrita e
da feitura da palavra, simultaneamente com a “leitura” e a “reescrita” da
realidade, e a pós-alfabetização, enquanto continuidade aprofundada do mesmo
ato de conhecimento iniciado na alfabetização, de um lado, são expressões da
reconstrução nacional em marcha; de outro, práticas a impulsionadoras da
reconstrução.
· Na etapa da alfabetização, o que se pretende não
é ainda uma compreensão profunda da realidade que se está analisando, mas desenvolver
aquela posição curiosa referida acima; estimular a capacidade critica dos
alfabetizandos enquanto sujeitos do conhecimento, desafiados pelo objeto a ser
conhecido.
· O trabalho que transforma nem sempre dignifica os
homens e as mulheres. Só o trabalho livre nos dá valor. Só o trabalho com o
qual estamos contribuindo para a criação de uma sociedade justa, sem exploradores
nem explorados, nos dignifica.
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O que é uma sociedade sem exploradores nem
explorados? É a sociedade em que nenhum homem, nenhuma mulher, nenhum grupo de pessoas,
nenhuma classe explora a força de trabalho dos outros. É a sociedade em que não
há privilégios para os que trabalham com a caneta
e só obrigações para os que trabalham com as mãos, nas oças e nas fábricas.
Todos são trabalhadores a serviço do bem de todos.