sábado, maio 02, 2009

Prazer em ler

O QUE É NECESSÁRIO ENSINAR NA ESCOLA

É comum ouvir na escola, entre queixas, que hoje em dia os alunos não aprendem nada na escola e que antigamente que era bom. No entanto, discutir se se aprende mais ou menos na escola agora ou há algumas décadas atrás, não leva a lugar nenhum. Até porque se está comparando o incomparável. Atualmente a sociedade é diferente, os alunos que freqüentam a escola são diferentes, aquilo que é útil que aprendam na escola é diferente,, e as próprias concepções de ensino aprendizagem são diferentes. Pois houve grande desenvolvimento tecnológico, mudanças de conceito e valores sociais e culturais.
Os alunos continuam saindo da escola sem uma preparação adequada para enfrentar situações de vida como cidadãos conscientes de seu papel na sociedade, pois a escola por sua vez, não está preparada para o modelo de sociedade atual. A escola com toda a evolução tecnológica e científica que esta acontecendo no mundo, continua a ser muito parecida com a que conhecemos em nossa infância., ou seja, uma educação bancária, como afirma Freire(1996), centrada nos interesses do educador, com um currículo sem significado fora do contexto vivido pelo aluno.
A sociedade passa por profundas mudanças. Os valores que serviam de referência, tais como crenças, costumes, hábitos foram postos em discussão, surgindo um novo paradigma, ou seja, novos conceitos e com isso estamos vivendo em uma era de transição.
Neste nosso contexto, o currículo escolar pode ser encarado de outra forma. As necessidades dos alunos precisam ser levadas em considerações. Ele, precisa ser aberto, inacabado, contendo uma certa dose de indeterminação que permita enriquecê-lo através da interação dos participantes, ou seja, dos alunos e professores. Tais aspectos valorizaram o conhecimento prático e proporcionam a construção de sentido para a realidade que os envolve, partindo do local para o global.
Na educação penso que é preciso investir mais na reflexão do que na repetição, permitindo que o sujeito pense o pensado, para estimular estratégias que contribuam para que os alunos tomem consciência do processo através dos qual o saber se elabora.
Considerando o currículo um processo interessado e não neutro, que produz valores e crenças para e de acordo com determinadas classes, na maior parte das vezes, com as classes dominantes, acredito que a escola nas suas relações sociais precisa perceber seu papel de transformação, assumindo novas competências para o aprender, que deve ir além de transmitir saberes referenciados numa listagem de conteúdos a serem sugeridos.
A escola continua a ser responsável pela transmissão dos saberes de referência nos vários campos do conhecimento, saberes esses que integram as bases essenciais de cada disciplina científica ou área cultural. No entanto, esses saberes de referência que se espera que a escola transmita aos alunos que a freqüentam podem ser alterados ao longo do tempo, devido à evolução da sociedade na qual a escola está integrada
Por outro lado, para que a escola consiga atingir os objetivos a que se propõe como aquisição, construção e transmissão dos saberes de referência, nem sempre pode utilizar os mesmos processos, a mesma "fórmula", apesar de esta aparentemente ter apresentado resultados positivos com as anteriores gerações de alunos. Atualmente, a escola vive uma crise que está relacionada com a necessidade de encontrar novas formas aprendizagem para um público cada vez mais diferenciado. A antiga fórmula de ensinar todos como se fossem pessoas todas iguais, num ritmo comum, numa visão fragmentada do saber, não funciona mais.
Investir mais na reflexão do que na repetição, permite que o sujeito aprenda a estabelecer relações, exigindo um nível maior de compreensão que precisa ser construído por ele, estimulando assim a construção de estratégias que contribuam para que os alunos tomem consciência do processo através dos qual o saber se elabora.
Atualmente, a escola vive uma crise que está relacionada com a necessidade de encontrar novas formas aprendizagem para um público cada vez mais diferenciado. Ensinar todos como se fossem um, funcionava num tempo em que o público que freqüentava a escola era mais homogêneo, parece não resultar numa época que a escolaridade se estendeu a muitos mais alunos, provenientes de diversas etnias, estratos sociais e econômicos.
A massificação do ensino parece não estar correspondendo à massificação do sucesso escolar. Na verdade, os alunos não estão saindo da escola com uma preparação curricular adequada, e a escola não está a ser capaz de prepará-los convenientemente. Como resposta a este desajuste de fundo entre a escola e o público ao qual se destina, contrapõe-se a flexibilidade curricular e a diferenciação pedagógica.
Nesta sociedade do conhecimento, também já não é válido esperar da escola que transmita, tal como noutras épocas, o essencial do saber disponível que hoje é vastíssimo e acessível por outros meios de comunicação. Mas continua a ser legitimo aguardar que a escola proporcione os saberes de referência e as competências necessárias para que os indivíduos possam gerir o seu próprio processo de aprendizagem e sejam capazes de adquirir novos conhecimentos durante toda a sua vida.
A maioria das pessoas quando visitam um espaço escolar observa dados como aspectos físicos, asseio, localização, segurança, normas disciplinares e equipamentos, deixando de lado o currículo, a política pedagógica e o modelo pedagógico que é desenvolvido no estabelecimento de ensino.
Dessa forma, as pessoas normalmente atentam para o que é superficial no processo pedagógico de um estabelecimento de ensino, não observando o fundamental na aprendizagem, qual seja: o currículo criativo, rico e bem definido, tanto nos seus aspectos amplos quanto nos pontos particulares; a grade curricular devidamente estruturada e cumprida em consonância com um planejamento pedagógico cuidadosamente discutido e acompanhado; o envolvimento dos docentes e de toda a equipe escolar com a política pedagógica definida e o processo de avaliação como algo permanente e não como um momento isolado de coleta de conhecimentos.
Nesse processo de ensino/aprendizagem, a definição clara de objetivos que contemplem a missão estratégica da escola, no contexto cultural, regional, social e político frente ao sistema produtivo é de fundamental importância. É necessário levar em consideração qual a visão de mundo que a escola pretende desenvolver com seu trabalho pedagógico, que formação o projeto político pedagógico oferece para o mundo do trabalho e o exercício pleno da cidadania. Salientando ainda a importância de rever valores e atitudes morais como: criticidade, auto-estima, afetividade, criatividade, tolerância, segurança e liberdade de expressão escola deve priorizar a efetiva integração de conteúdos formando uma cadeia construtiva educador- educando-comunidade.

O professor nesse processo, precisa ser encarado como um elemento essencial e fundamental. Quanto maior e mais rica for sua história de vida e profissional, maiores serão as possibilidades dele desempenhar uma prática educacional consistente e significativa. Sobre esse assunto, Nóvoa (1991) afirma que não é possível construir um conhecimento pedagógico para além dos professores, isto é, que ignore as dimensões pessoais e profissionais do trabalho docente. Não se quer dizer, com isso, que o professor seja o único responsável pelo sucesso ou insucesso do processo educativo. No entanto, é de suma importância sua ação como pessoa e como profissional.
Questionar modelos de política-pedagógica significa mexer no cerne da questões educacionais. Por isto, é mais cômodo "deixar assim". A postura indiferente da maioria dos educadores diante desta passividade dos sistemas educacionais se percebe-se nos espaços escolares diante da reação dos alunos quando se propõe situações diferentes de aprendizagens, que levam o aluno a pensar e não somente a copiar e eles dizem: -"a gente não vai escrever nada hoje no caderno?"
Ao ouvir falas como essas percebi um pouco da problemática de ser educadora. Mesmo sendo uma preocupação que se faz presente entre políticos, educadores e pais, é dentro da escola que se apresenta o problema e o educador é que tem que resolver.

APRENDER É QUASE TÃO LINDO QUANTO BRINCAR

É preciso que cada educador se torne um pesquisador, para poder perceber e entender como as crianças constroem seus conhecimentos e que tipo de interferência podem ser feitas. A prática se esvazia quando apenas buscamos cumprir e apontar uma lista de conteúdos vazias de significação.
Durante reuniões de planejamento é possível observar a grande preocupação dos dirigentes e coordenadores em manter a parte burocrática em ordem estabelecendo em primeiro lugar não o que deixa a criança com desejo de aprender e sim listar o que deve ser trabalhado no próximo trimestre.
Uma proposta de pesquisa parte do principio de que a aprendizagem não é fruto apenas de uma acumulação de novos conhecimentos e sim uma re-estruturação dos conhecimentos já adquiridos com os novos. Com isto o que se quer é que o aluno aprenda a aprender e a viver, quer dizer o sujeito organizar seus próprios conhecimentos estabelecendo relações com os novos para enfrentar novos problemas se relacionando com o mundo.. esta proposta tem como eixo a participação do aluno em seu processo de aprendizagem, produzindo algo que tenha significado e sentido para ele, e não o professor dar aula.
As expressões "dar aula" ou "meu projeto de pesquisa" trazem embutidas em si, o conceito da educação tradicional, a educação conteudista. Mesmo que se acompanhem o modismo de termos modernos como esses, é preciso mudar a nossa forma de pensar e de propor o novo, ele não pode continuar centrada no meu querer. De maneira breve poderíamos dizer que esse tipo de visão escolar prevê que os conteúdos curriculares são coisas já definidas e estanques e que o professor poderá dominá-los por completo e poderá passar aquilo tudo ao aluno.
Imagina-se que o aluno poderá "apreender" todo o conteúdo, e que poderão ser elaboradas provas que medirão de forma adequada o quanto os alunos apreenderam dos conteúdos. Assim são quotidianamente usados os verbos - eu dei aula, eu dei prova, eu fiz prova, eu assisti aula, eu aprendi, eu não fui bem ...
Na escola normalmente as coisas acontecem desconectadas do cotidiano da criança. É preciso que nós educadores percebamos que somos cientistas do saber, que nossas descobertas e invenções serão instrumentos de muito valor para nossa prática. É necessário conectar conhecimentos, todas as coisas no mundo estão conectadas e em movimento e isto mostra que existe ligação entre a educação e as outras ciências explicando que tudo o que existe no espaço se movem se conectam e se renovam, o nosso saber também precisa de certa forma acontecer assim, ligado e se renovando a cada dia.
Portanto, neste trabalho propus uma prática de ensino com possibilidade de aproveitamento do lúdico na metodologia, dando ênfase a construção do saber de forma prazerosa que este sujeito possa desenvolver, permitindo assim um trabalho pedagógico mais envolvente. Todas as nossas aulas tinham um certo suspense nas atividades, usei recursos variados com retroprojetar que eles nunca tinham visto como funcionava, internet, pois fomos num centro estadual num bairro próximo a escola, visitamos vários locais que tinham ligação com os temas da pesquisa, construímos muitos textos, em fim quase nada era pronto e sim fruto de um trabalho coletivo.
Propus ainda, explorar novas práticas no ambiente-escola que se utilizam do lúdico, para a construção da aprendizagem. Contruimos jogos no decorrer das aulas, adotamos uma rotina construída coletivamente, cantávamos muito, saíamos para pesquisa de campo. Percebi com isso que se o professor tiver conhecimento e prazer, mais probabilidade existirá de que os aprendizes se utilizem desse "modelo" na sua sala de aula. Nóvoa (1991) afirma que o sucesso ou insucesso de certas experiências marcam a nossa postura pedagógica, fazendo-nos sentir bem ou mal com esta ou aquela maneira de trabalhar na sala de aula.
Ao sentir que as vivências lúdicas podem resgatar a sensibilidade, até então adormecida, ao perceber-se vivo e pulsante, o aprendiz faz brotar o inesperado, o novo e deixa cair por terra que a lógica da racionalidade extingue o calor das paixões, que a matemática substitui a arte e que o humano dá lugar ao técnico, permitindo o construir alicerçado no afeto, no poder fazer, sentir e viver.
Vivenciar o processo do aprender colocando-se no lugar da criança, permitindo que a criatividade e a imaginação aflorem através da interdisciplinaridade enquanto atitude, trona-se de vital importância . A intersubjetividade se mostre por meio do afeto e da alegria de poder liberar o que cada sujeito trás consigo mesmo e quanto pode contribuir com o outro. Também alicerça tal trabalho o contato que tivemos com a comunidade na extensão de nossas pesquisas. O que pretendia então é mais o caráter epistemológico do lúdico, do afeto e do prazer de aprender na escola. Também construímos um portfólio de suas ações (registro contínuo da ação: proposta/plano, etapas, desenvolvimento e resultados).
Através do portfólio foi possível perceber o que a criança como sujeito que pensa, age, sente, sonha, imagina, e por isso, não só recebe mas é capaz de criar e recriar um conhecimento significativo, pois ele é participante do processo, como é possível perceber em alguns dos depoimentos das crianças que citarei como por exemplo: "no inicio era chato e a gente não queria pesquisar, porque nunca tínhamos feito isto antes", outro aluno escreveu que como era gostoso aprender assim, estudando sobre o que escolheu", " o tempo desse jeito passa bem depressa é porque é bom".
Acredito que é preciso criar novas alternativas para reencantar a educação pois segundo Hugo Assmann (1993), é preciso ousar, abandonar velhas práticas e buscar caminhos novos que despertam o prazer de produzir saber, isto eu pude perceber através dos portfólios, quando as crianças expressavam que o que estava escrito por eles era uma obra de arte muito rica que transparecia em cada expressão de satisfação, inclusive demonstrando que eles faziam portfólio igual a alunos de faculdades.
Eu como sujeito, acadêmica do curso de Pedagogia, nesta docência pude perceber aspectos ricos na construção de uma Pedagogia do afeto pois sabe-se que a afetividade acompanha o ser humano desde o nascimento e está em nós como uma fonte geradora de potência e energia, pois uma criança que sente-se amada dificilmente vai mal na escola e através desta afetividade desperta-se o desejo e a construção do saber coletivo. Todo esta prática permitiu fundamentar e analisar o trabalho do professor como um aprendiz na sala de aula, alicerçado na interdisciplinaridade com ênfase no lúdico como metodologia de ação.
Este estágio de alguma forma contribuiu com a melhoria da minha formação como professor/aprendiz, no sentido de fazer do processo de ensino e do processo de aprendizagem uma ação que vê o homem como unidade, como um ser-no-mundo com o outro, como uma forma de resgatar o humano no sistema educacional. Outra contribuição prestada está relacionada ao conquistar um espaço importante, no processo enfatizado, por ter a oportunidade de mostrar para outros professores que existem formas diferentes de aprender e que despertam o interesse da criança por ser prazeroso.
Enfim , quando digo que aprender é quase tão lindo quanto brincar refiro-me a questão de que a escola não deve ser um mundo a parte fechado e protegido, um mundo com conteúdos estranhos que não tem qualquer significação nem qualquer utilidade para os alunos, para um conhecimento ser assimilado tem que ter sentido, e que a aprendizagem se da principalmente pela interação social.
Pensando assim, a escola precisa respeitar e valorizar as diferentes habilidades do sujeito, e não apenas o que o professor seleciona nos conteúdos como importante, isto já afirmava o psicólogo e pesquisador Gardner,(1995), destacando as inteligências múltiplas, que o aluno não é bom em tudo precisamos respeitar o ritmo próprio de cada indivíduo e perceber em qual a área o sujeito se destaca, pois isto reforça que todos são capazes.
Cabe ao professor criar condições agradáveis e interessantes para a criança construir seu saber, pois ninguém avança sozinho, é necessário considerar a forma da criança pensar, para poder intervir despertando a vontade de aprender, para isso precisa existir uma sintonia entre quem ensina e quem aprende.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1. ASSMANN, Hugo. Metáforas novas para reencantar a educação. Epistemologia e didática. Piracicaba, SP: UNIMEP, 1996.
2. CORAZZA, Sandra. O que quer um currículo? Porto Alegre: Vozes, 2001.
3. FRREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
4. GARDNER, Howard. Inteligência múltiplas: a teoria na prática; trad. Maria Adriana Verríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
5. MORIN, Edgar Os sete saberes necessários à educação do futuro, São Paulo: Cortez; Brasília, DF; UNESCO, 2000.
6. NÓVOA, A. (1995). (coord.) Os professores e a sua formação. 2ª ed. Lisboa Dom Quixote.
7. REDIN, Marta Martins. Entrando pela janela: o encantamento do aluno pela escola. Porto Alegre: Mediação, 2002.
8. SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade ; uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

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