domingo, fevereiro 14, 2010

O papel do coordenador na reflexão que o professor faz de sua prática

O aprendizado com e a partir da experiência contribui para que o professor compreenda que ser competente profissionalmente, ou seja, naquilo que faz, é o que imprime qualidade em sua atuação. E, para termos clareza de nossas experiências transformando-as em competências, em saberes construídos, é preciso, em diversas situações, nos depararmos com a idéia de que poderíamos ter agido melhor, mas não simplesmente para constatar e sim para nos conscientizarmos de nossa ação, entendendo nossos atos, sendo capazes de re-significá-los e aprendermos com eles, agindo assim, em uma constante postura de aprimoramento da ação educativa.
A questão central é: Como fazer isso? Como podemos ajudar o professor a valorizar a reflexão sobre a sua prática como uma forma de construção do conhecimento e de apropriação de sua profissão?
Segundo Perrenoud (2002) temos que investir enquanto formadores em oferecermos uma formação totalmente dedicada a análise de práticas e ao procedimento clínico. Isso porque, a análise da prática do professor e a sua escrita reflexiva, o incitam a aceitar que não é um herói que sabe tudo, que resolve tudo, pelo contrário, o permite aceitar sua condição de trabalho e de atuação. Nessa perspectiva, a análise e reflexão sobre a prática também permite ao professor assumir suas preferências, suas falhas, seus preconceitos, seus saberes, suas frustrações e comemorações, tornando seu oficio mais possível, próximo a realidade, e assim mais prazeroso.
É claro que isso não é algo fácil, sabemos o quanto é difícil encontrarmos em nós mesmos nossos defeitos e, principalmente, assumirmos nossos erros. Se pensarmos a partir deste enfoque podemos compreender porque é tão difícil ao professor descrever uma atividade que realizou e ser crítico frente a ela. Muitas vezes, esse procedimento evidencia a ele algo que está complicado de ser assumido e, para não entrar em contato com este conteúdo, é mais fácil se isentar ou deixar que o outro diga.
Então encontramos um problema. Um problema nosso, do formador. Como podemos contribuir para que o professor explicite seus conflitos, mostre seus medos, seus desconhecimentos, se coloque como parte de um problema vivido em sua prática? Como fazer isso sem desmotivá-lo, sem desconsiderarmos seus conhecimentos? E, talvez, o mais difícil: Como fazer isso de uma forma construtiva, ou seja, que leve o professor a rever sua ação ao mesmo tempo em que constrói um conhecimento sobre ela.
Podemos pensar que o primeiro passo é auxiliar o professor a encontrar um sentido naquilo que está fazendo e, a partir daí, se colocar como ator, na perspectiva daquele que atua e, portanto, tem responsabilidade sobre sua ação.
Esse processo é essencial para a construção de sua identidade profissional. Se não encontra sentido na sua reflexão, não há a possibilidade de atribuir significado para este investimento que está sendo solicitado a fazer. Este é um de nossos grandes desafios: Tornar aquilo que evidenciamos como um problema da prática, uma questão a ser resolvida, um saber a ser construído; um problema a ser resolvido na vida do professor. Porém, atentem, não é qualquer problema e sim um problema que ele realmente considere seu e que acredita que sem resolvê-lo, não há como dar continuidade em sua ação educativa.
Essa identificação com o problema é essencial para que o professor possa mobilizar seus conhecimentos teóricos, seu saber prático (adquirido pela experiência) e seus valores pessoais e, a partir desta mobilização, reconceitualizar toda a sua ação, seus saberes, seus valores.
E é aí que está nossa grande responsabilidade como formador! Isabel Alarcão escreve em seu texto “Reflexão crítica do pensamento de D. Schon e os programas de formação dos professores” que,”o papel do formador não consiste tanto em ensinar como em facilitar a aprendizagem, em ajudar a aprender. Schon retoma assim a pedagogia de deweyiana, e também rogeriana, ao afirmar que não se pode ensinar ao aluno o que ele vai ter necessidade de saber, embora se possa ajudá-lo a adquirir esse conhecimento” (Alarcão, 1996, p.18) Ainda segundo a idéia da autora, na formação o formador “desempenha fundamentalmente três funções: Abordar os problemas que a tarefa coloca, escolher na sua atuação as estratégias formativas que correspondem à personalidade e aos conhecimentos dos formandos com quem trabalha e tentar estabelecer com eles uma relação propicia à aprendizagem.”(idem p. 19)
É em busca dessas funções que devemos voltar as devolutivas que escrevemos às nossas professoras e realizarmos, nós, a seguinte reflexão: Será que por meio de nossas intervenções estamos auxiliando o professor a aprender sobre a sua prática?
A resposta a esta questão implica analisarmos as nossas próprias devolutivas, buscando evidenciarmos o que estamos considerando como um processo de ensino aprendizagem. Para tentar ser mais clara, precisamos ter a consciência que só vamos aprimorar a nossa competência de formadores que pretendem favorecer a reflexão de seus professores, se analisarmos e refletirmos sobre a nossa prática.
A idéia então, com este artigo, é favorecer a construção das competências analíticas e reflexivas do formador, com a intenção de que elas se reflitam na formação de professores reflexivos.
Para tanto, vamos retomar algumas idéias que pontuei até o presente momento, acrescentarmos algumas outras...
Retomando
Pudemos compreender até o momento que, para que o professor reflita sobre a sua prática, é preciso que ele saiba refletir. A reflexão que é exigida nessa situação implica alguns procedimentos básicos: retomar sua prática, analisá-la, problematizá-la e reconceitualizá-la. Essa não é uma tarefa fácil de ser realizada sozinha e é nesse espaço que entramos com nossa intervenção.
Por meio do registro do professor, podemos criar um problema para sua prática que o leve a repensá-la e reconceitualizá-la. Dois fatores importantes precisam ser considerados nesse contexto: Este problema deve auxiliar o professor a encontrar um sentido para sua ação reflexiva e, conseqüentemente, não é qualquer problema que possibilita essa criação de sentido. Portanto, é preciso analisar quais seriam possíveis problemas que favoreceriam a reflexão do professor.
Mais uma vez trago a contribuição de Perrenoud (2002, p.41) para nossa análise. Segundo o autor:
Os fatores motivadores da reflexão são múltiplos:
Problema a resolver;
Crise a solucionar;
Decisão a tomar;
Ajuste do funcionamento;
Auto-avaliação da ação;
Justificativa junto a um terceiro;
Reorganização das próprias categorias mentais;
Vontade de compreender o que está acontecendo;
Frustração ou raiva a superar;
Prazer a ser salva-guardado a qualquer custo;
Luta contra a rotina ou contra o tédio;
Busca de sentido;
Desejo de manter-se por meio da análise;
Formação, construção de saberes;
Busca de identidade;
Ajuste das relações com o outro;
Trabalho em equipe;
Prestação de contas.
O desafio é adequarmos cada um deles ao processo de formação de cada um dos nossos profissionais, pois sabemos que são diversos entre si. Quero dizer com isso que, para cada professor, o problema que colocamos, as palavras que escrevemos, as indagações que fazemos, são diferentes. Para saber qual a melhor intervenção para cada situação, só mesmo analisando e refletindo!

(Beatriz Ferraz)

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