domingo, fevereiro 14, 2010

Função social e humanizadora do educador

De acordo com a LDB 9.394/96, a escola deve exercer um papel humanizador e socializador, além de desenvolver habilidades que possibilitem a construção do conhecimento e dos valores necessários à conquista da cidadania plena. Para que possa realizar tal função, é preciso levar em conta a vida cotidiana daquele que “aprende” e a daquele que “ensina”, uma vez que cada um traz consigo elementos extrínsecos à realidade escolar, os quais devem ser relevantes dentro do espaço de criação e recriação das relações que se estabelecem no ambiente escolar. Eles devem ser uma referência permanente na ação educativa.

Para isso, exige-se uma prática participativa, dialógica e democrática. Em 1988, a UNESCO gerou quatro premissas norteadoras para o processo ensino/aprendizagem – aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser – que, em conjunto, buscam integrar conhecimentos de diferentes componentes curriculares. O mais significativo para a reflexão neste momento é a busca evidente da dimensão social que a aprendizagem cumpre no percurso de construção da cidadania, contribuindo como instrumento de compreensão e intervenção na realidade em que vivem alunos e professores.

Vale a pena ressaltar que a aprendizagem deve sempre desenvolver competências e habilidades a fim de que o educador e o educando entendam a sociedade em que estão inseridos como um processo permanente de reconstrução humana ao longo das gerações, num processo contínuo, dotado de historicidade; que compreendam que a garantia desse espaço de socialização depende do respeito às individualidades, para que cada um construa a si próprio como agente social, alcançando o bem da coletividade.

O que fazer para que ‘educandos’, e por que não ‘educadores’, frutos do neoliberalismo social, do capitalismo selvagem e da crise política que o mundo atravessa, possam realmente transportar para além dos muros da escola, experiências de decisões democráticas? Adotem atitudes coerentes sem que haja hegemonia de ‘um sobre o outro’? Até quando o professor será o intocável, fator incoerente com o processo de ensino/aprendizagem? Até quando o aluno insistirá em ir na contra mão, remando na direção oposta de tal processo? Será que a escola, enquanto instituição, deixou-se levar por essas distorções? O que fazer, então?

É difícil aceitar que a origem da formação profissional de nossos educadores venha de um modelo centralizador, não democrático, típico do poder ditatorial exercido pelas escolas tradicionais, das quais somos frutos. Difícil e conflitante, uma vez que o mundo mudou, os alunos mudaram, a educação mudou e nós, profissionais da educação, embora na tentativa de acompanhar tais mudanças, trazemos cravados na alma o ranço de nossa formação.

É preciso fazer algo! É preciso uma mudança na concepção do ensino/aprendizagem, já que uma nova visão dialético-pedagógica se instalou. A estrutura de uma escola preocupada com essa visão estará sempre voltada para a transformação social e humanizadora do educador e do educando, de modo que compreendam as possibilidades que apresentam em relação à concretização de ações voltadas para a transformação.

Para tal, deve-se considerar a prática mediadora do educador no processo de transformação social, que ocorrerá de forma mediatizada na modificação das consciências, de modo que o conjunto de práticas socializadoras produza a modificação da sociedade.

Isso só será possível se a proposta que conduz o processo estiver voltada para uma pedagogia crítica e libertadora. Um movimento de mão dupla que passe de uma visão crítico-mecanicista, crítico ahistórica, para uma visão crítico-dialética, possibilitando a compreensão da atual proposta educacional brasileira que é a de transformação histórica, através do resgate de valores culturais, políticos, sociais e científicos, explicitamente presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL-MEC, 1996).

Urge ao educador possuir e, como conseqüência, despertar em seus alunos, as habilidades necessárias para elevar a auto-estima, a comunicação escrita e oral, o pensamento lógico e racional para solucionar problemas e tomadas de decisões, a flexibilidade cognitiva, além do aprendizado colaborativo/cooperativo nas questões que envolvem o exercício da cidadania, como a responsabilidade social e a ética.

O educador deve, portanto, desenvolver um senso de responsabilidade nos alunos e ter valores de formação humana. É preciso repensar na formação que tivemos e na que queremos ter, bem como na auto-imagem que construímos e a que, verdadeiramente, almejamos.

Nós, educadores, necessitamos urgentemente acreditar que a utópica educação pós-moderna se concretizará se o ponto central de toda e qualquer intervenção no processo ensino/aprendizagem que fizermos estiver voltado para aquilo que dá sentido para o educando, considerando suas dimensões pessoal, afetiva e intelectual.


João Alfredo Carrara

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