domingo, setembro 23, 2018

Livro didático


REFLEXÃO SOBRE O LIVRO DIDÁTICO


O livro didático tem sido objeto de debate e reflexão, havendo várias posições a respeito de seu uso. Em um extremo, há os que argumentam que o livro didático (LD) deveria ser abolido totalmente das salas de aula – e escolas que assim o fazem criam suas próprias apostilas, ou adotam material pronto ou, ainda, permitem que os professores criem seu próprio material. Por outro lado, vemos um apego excessivo ao LD, de forma que ele passa a ser o programa da disciplina ensinada, ditando o que deve e não deve ser ensinado e funciona como mediador entre teorias da aquisição e o professor (D’Ely & Mota, 2004:71). Uma prova de como essa idéia de que o livro didático possui supremacia absoluta no ensino está de tal forma arraigada em nossas salas de aula é quando, por exemplo, um professor decide não utilizar determinada atividade e ‘pular’ para a seguinte e o aluno logo pergunta: “E a atividade X, professor?”.

Entre um e outro extremo, há várias nuances. Primeiro, há que se ressaltar que não existe livro didático ideal e que ele constitui apenas uma ferramenta na educação. Além disso, o papel do professor é importante para levar os alunos a pensar de modo crítico e a apropriarem-se dos gêneros discursivos (propostos ou não) pelo LD adotado pela instituição de ensino.

O livro didático está inserido em um contexto sócio-cultural global já que é utilizado em múltiplos contextos que variam de acordo com as condições sociais e culturais de diferentes grupos. Além disso, o LD também se relaciona com o contexto individual do aluno, no seu aspecto social, ou seja, com sua inserção no mundo como indivíduo que está envolvido em diferentes práticas sociais no seu dia-a-dia. O LD está ainda relacionado com o contexto de ensino-aprendizagem, ou seja, o ambiente formal de ensino, como cursos de línguas, escolas ou até mesmo aulas particulares.

O livro didático apresenta  outras características: 1) intertextualidade – uso de outras fontes ou textos e 2) interdiscursividade – uso de elementos que carregam significados sociais e institucionais de outras comunidades. Esse caráter intertextual do livro didático de língua estrangeira é o que vai possibilitar a presença dos mais variados gêneros discursivos em cada livro. Por todas as razões acima, o livro didático se constitui atualmente em rica fonte de pesquisa e análise (Chiaretti, 1996; Coracini, 1999; Rufino, 2003; Carmagnani, 2003; D’Ely & Mota, 2004; Zilles, 2004; Conceição, 2005; Ticks, 2005), visando, através do olhar crítico e de novas contribuições, desencadear a produção de material que, cada vez mais, atenda às exigências de um ensino voltado para a apropriação de gêneros, visto que estes são considerados como “um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas humanas” (Marcuschi, 2002).

Embora não seja considerado obrigatório o uso do livro didático no contexto de ensino-aprendizagem, em qualquer que seja a disciplina, dificilmente entramos em uma sala de aula da língua estrangeira – quer em escolas regulares, quer em cursos de idiomas, em que um livro, ou mesmo partes de um livro, não esteja sendo usado. Desta maneira, não é de se estranhar que os livros didáticos ainda sejam a ferramenta de ensino mais importante. Apesar de, em dados momentos da evolução do pensamento sobre ensino-aprendizagem, ter havido a tentativa de se fazer com que os alunos descobrissem as verdades científicas por si mesmos.

Para Lopes-Rossi (2002:21), a questão da dependência do professor em relação ao livro didático deve-se a “uma série de deficiências de formação e de infraestrutura no país”. Cabe, ainda, acrescentar que o livro texto vem geralmente carregado de grande autoridade, de modo que as percepções dos professores tornam se irrelevantes, além de a relação professor-autor nem sempre possibilitar uma postura crítica dos professores através de um canal direto com o autor (Olson,1989:240).

Apesar de suas fraquezas, como, por exemplo, levar os alunos à falsa crença da neutralidade e objetividade do discurso escrito, o “livro texto é útil no que se refere a uma maneira organizada de se ver a disciplina” e é também um gênero mais familiar aos alunos (Johns, 1997), além de poder funcionar como um facilitador do papel do professor no ensino (Hyland, 2000:104).

O papel dos professores face ao seu uso deva ser crítico, para:

a) ajudar os alunos a entenderem que, “como todos os gêneros, os livros didáticos são motivados por uma variedade de forças” (Johns, 1997);
b) considerar seu caráter mais dialógico com o avaliador-leitor (nós professores) do que com o consumidor-leitor (nossos alunos) (Swales, 1995, p.6 apud Johns, 1997);
c) servir como uma ferramenta e não simplesmente a única ferramenta de ensino (Olson, 1989);
d) levar em consideração a realidade sócio-cultural e não meramente lingüística da língua estudada (Meurer, 2000).

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